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Exclusivo: o consultor Stephan Keese analisa o mercado de acessórios

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O respeitado consultor da Roland Berger apontas as razões pelas quais o nosso mercado deve continuar crescendo e evoluindo.

“Embora no momento o mercado um pouco abaixo do resultado do ano passado, existe a possibilidade do mercado acelerar um pouco no quarto trimestre. Não vejo sinais de estagnação e espero um crescimento do mercado para 2014“.

“O crescimento por si só já é uma boa notícia, embora não seja possível esperar altas taxas. É preciso lembrar que temos muitos outros mercados no mundo em situação muito pior. E, para o mercado de reposição, um crescimento mais vagaroso é uma boa notícia, já que normalmente, é quando esse setor cresce mais rápido“

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Stephan Keese

O autor dessa análise é o consultor alemão Stephan Keese, que ao longo dos últimos anos se transformou numa das vozes mais ouvidas e respeitadas quando o assunto é o mercado automotivo do Brasil.

Sócio responsável pela área automotiva no Brasil da Roland Berger Strategy Consultants, uma das mais respeitadas empresa de consultoria estratégica do mundo, desenvolveu o exclusivo estudo sobre o mercado brasileiro de acessórios que apresentou em primeira mão em palestra durante a edição deste ano do ENAN – Encontro Nacional AutoMOTIVO de Negócios.

Formado em engenharia pela Universidade de Karlsruhe, ele trabalhou na Porsche e na BMW, sempre com foco no pós-vendas, como gosta de lembrar.

MBA pela Georgetown University, integra o quadro de consultores da Roland Berger desde 2001, o que o levou a trabalhar nos Estados Unidos, China e Coréia.

Desde 2009 ele trabalha no Brasil, onde chegou com a missão de desenvolver a prática automotiva no país e no resto da América Latina. Hoje, atende praticamente todas as grandes marcas de montadoras e fornecedores.

Motivos para acreditar

O consultor não vê como o mercado automotivo possa vir a ser afetado de forma efetiva por eventuais desacelerações da economia. Mesmo que haja pontos de recessão em algum momento, acredita que o mercado continuará a crescer.

Ele justifica a sua análise, lembrando que nos próximos anos entrarão no mercado os veículos das novas fábricas que hoje estão em construção e os das fábricas brasileiras das montadoras de luxo, como BMW, Mercedes, Audi e Land Rover, sem falar nos da Kia, que ele espera que anuncie em breve sua fábrica no Brasil.

“Além disso, outro ponto relevante é a renovação das linhas de modelos das montadoras já instaladas hoje e aí entram novidades como o Up!, o Santana, a renovação que a GM acabou de completar, o novo Ka da Ford e os modelos que vão sair da nova fábrica da Fiat, em Pernambuco“, completa.

Impactos no mercado de acessórios

Se não prevê grandes impactos no crescimento, Stephan Keese está certo de que haverá impactos na estrutura do mercado de acessórios e destaca quais são as principais tendências: demanda por produtos mais sofisticados, maior importância das concessionária e mais presença de acessórios ligados a “lifestyle“ (estilo de vida), que ainda têm pouca presença no Brasil.

“Com todas as fábricas renovando suas linhas de produtos e introduzindo veículos com mais tecnologia, mais “features” (funcionalidades), acredito que isso que pode impactar o mercado de acessórios no futuro. Acredito que na linha de som os produtos vão precisar ser mais sofisticados, mais alinhados com os oferecidos na Europa e na América do Norte, com as “features” básicas já instaladas“, justifica.

E continua: “já no segmento de veículos mais caros, não vejo muito espaço para acessórios, fora tapetes e rodas, embora muitos carros de luxo já venham com rodas bem bonitas. Rodas são acessórios caros em todo mundo. Na Europa, um jogo de rodas para um carro como uma BMW sai por volta de R$9 mil“.

Com o mercado automotivo brasileiro sendo o quarto maior do mundo, ele considera uma tendência natural a entrada de mais “players” estrangeiros no segmento de acessórios no Brasil. Segundo sua análise, algumas das grande marcas internacionais ainda não são muito fortes aqui e outras ainda não atuam, mas vão chegar, inclusive as chinesas. “A princípio, vejo um interesse nesse sentido, especialmente dessas empresas, importando da Europa e da Ásia“, explica.

Outro fator que deve mudar é a postura das concessionárias autorizadas. “As montadoras estão começando a preparar as suas redes para uma postura mais atuante no pós-venda e também na venda de acessórios“, informa. Apesar disso, ele ainda não vê as concessionárias competindo para valer com o varejo especializado em som e acessórios.

“Eles simplesmente não têm esse foco, não reconhecem acessórios como parte do negócio, embora hoje isso comece a mudar“, explica. “Eu conheço pouquíssimas concessionárias aqui que têm um foco profissional no mercado de acessórios”, continua. No entanto, ele lembra de isso não é muito diferente do que acontece na Alemanha, na França ou nos Estados Unidos.

Ele conta que sua opinião também está baseada em experiência pessoal: “comprei um carro em uma concessionária muito conhecida aqui de São Paulo, considerada uma das melhores da marca, e a única coisa que me ofereceram foi a película para os vidros. Foi preciso pedir especificamente tapetes e outros acessórios que considero básicos…”.

“O crescimento por si só já é uma boa notícia, embora não seja possível esperar altas taxas. É preciso lembrar que temos muitos outros mercados no mundo em situação muito pior. E, para o mercado de reposição, um crescimento mais vagaroso é uma boa notícia, já que normalmente, é quando esse setor cresce mais rápido“

Evolução, não revolução

Tudo isso não implica em uma mudança radical. Stephan prefere dizer que se trata de uma evolução do mercado e vê uma aceleração da velocidade com que essas mudanças estão ocorrendo. ”Isso não implica necessariamente em prejuízos para o mercado de acessórios, mas significa que os players precisam se preparar para atuar nessa nova estrutura“, analisa.

Ele prevê necessidade de mudanças na logística, no aumento do nível de estoque mantido nas lojas pelos  varejistas, no aumento da tendência de consolidação e fortalecimento dos distribuidores,na melhor divulgação e compreensão dos aspectos dos produtos, na catalogação e no aprimoramento da capacidade dos fabricantes e importadores ajudarem o varejo nos aspectos técnicos e comerciais.

“Acho que hoje o mercado nesse segmento está vinte anos atrasado em comparação com a Europa e os Estados Unidos. Mas também acho que essa diferença vai ser eliminada rapidamente“, declara, explicando que, de modo geral, o mercado brasileiro de acessórios tende a refletir e adaptar o que já está acontecendo no mercado europeu e americano, mas o Brasil não é nem a Europa nem os Estados Unidos e o Brasil tem características bem específicas.

Mudanças do consumidor

Segundo o consultor da Roland Berger, a introdução no mercado brasileiro dos novos modelos mundiais vai influenciar o consumidor, principalmente no que diz respeito à conectividade. Tendência que chegou para ficar, essas plataformas mundiais oferecem mais tecnologia, mais funções e também mais conectividade.

“Qualidade passa a ser essencial. Sem qualidade você não consegue competir. Com os carros mais sofisticados, mais complexos, também os acessórios vão precisar ser mais sofisticados. Mas isso é uma tendência mais a longo prazo“, decreta.

“O consumidor está cada vez mais exigente, mais antenado, não está mais disposto a aceitar quaisquer produtos. A competitividade entre as montadoras é muito maior do que no passado e nesse sentido um carro que faria sucesso há cinco anos atrás não necessariamente faz hoje. O consumidor brasileiro aprecia um design mais moderno, mais diferenciado e em função disso alguns modelos estão tendo mais sucesso do que outros. Alguns modelos chegam aqui dois, três anos atrasados“, explica.

“No entanto, vale lembrar que outros modelos, com design mais tradicional, têm grande participação nas vendas corporativas (frotas e locadoras) e são veículos mais conceituados e reconhecidos do que os lançamentos mais recentes“, completa.

Resumo e recado

Encerrando sua entrevista exclusiva à AutoMOTIVO, Stephan Keese resume: “o mercado está entrando em uma nova fase. O Brasil finalmente chegou na globalização, com os veículos mais modernos que as montadoras estão oferecendo. A maioria dos modelos vendidos aqui hoje é bastante similar aos modelos vendidos na Europa e nos Estados Unidos, mercados mais desenvolvidos“.

“Isso acontece com maior ênfase no segmento de veículos de luxo e SUV no que no dos populares. São veículos que oferecem mais tecnologia, mais funções, mais conteúdo e, por isso, nesse segmento o mercado de acessórios é mais sofisticado. Isso exige uma evolução na estrutura do mercado“.

Por fim, ele manda um recado: “de modo geral, o mercado amadureceu e está entrando em uma nova etapa. Os veículos melhoraram, porém a estrutura e o portfólio de serviços ainda são muito atrasados em comparação com outros mercados. Mas é preciso profissionalizar ainda mais o varejo, e também as concessionárias, para atenderem melhor o consumidor“.

Por Amadeu Castanho Neto

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