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Mudanças vieram para ficar

O mercado automotivo mudou. É importante se preparar para tirar proveito dos reflexos dessas mudanças no mercado brasileiro de som e acessórios automotivos.

Como você já deve ter percebido, nos últimos anos o mercado automotivo brasileiro vem sofrendo diversas alterações. Agora, com a ajuda decisiva da crise econômica, ele mudou de vez e muitas coisas com as quais havíamos nos acostumado, também.

O fim do primeiro semestre deste ano mostrou um cenário diferente daquele ao qual havíamos nos habituado, deixando claro que muitas das premissas que regiam o mercado automotivo até agora mudaram ou estão perto de ser mudadas.

O jogo das cadeiras no rankings dos mais vendidos é uma clara indicação disso. A troca de modelos de marcas como Fiat e Volswagen por produtos da Hyundai, da Toyota e da General Motors é uma das indicações mais claras dessas mudanças. Você se lembra do tempo em que a Volkswagen dava as cartas no mercado brasileiro? O Fusca, o Gol e até a Kombi marcaram época e, apesar dos esforços das outras montadoras nas primeiras décadas da indústria automotiva brasileira, mantiveram-se na pole position por muitos anos.

Numa virada de página, a chegada da Fiat começou uma outra fase, marcada pela abertura de novas fábricas fora da região do ABC Paulista e pela chegada de marcas que só conhecíamos das páginas das revistas especializadas.

Com a instalação da Fiat em Minas Gerais e o lançamento do 147, seguido pelo Uno e, mais tarde, pelo Palio, a Volkswagen começou a cair vagarosamente no ranking das montadoras.

Num outro ciclo, a General Motors reformulou a sua estratégia de atuação e passou a investir em veículos compactos, com os quais foi subindo aos poucos no ranking dos veículos mais vendidos.

O ciclo mais recente foi o das montadoras asiáticas, que introduziu no País marcas como a Honda e a Hyundai e transformou a Toyota de montadora de utilitários em fabricante de automóveis.

A pá de cal nos velhos tempos foi a inauguração da fábrica da Jeep em Pernambuco, que permitiu o lançamento do SUV Renegade e da pick-up média Toro, abrindo ainda inúmeras possibilidades de novos modelos com as marcas Fiat e Jeep.

O que continuou o mesmo em meio às mudanças

O que não mudou foi uma coisa que chega a parecer absurda: em meio às quedas vertiginosas nos números de vendas no último ano e pouco, nenhuma montadora reagiu com cortes nos preços de tabela de seus veículos.

O que se percebe é que as montadoras fizeram muita coisa, mas não mexeram para valer nos preços. Fizeram promoções, usaram e abusaram de financiamentos com juros baixos, lançaram séries especiais, investiram em feirões de fábrica e publicidade, mas cortar preço que é bom, nada.

Posso estar errado, mas não é isso que você faria na sua empresa, mesmo com dor no coração? Procuraria vender mais absorvendo custos, diminuiria a margem de lucro, até desenvolveria assessórios mais simples, mas iria acabar praticando preços que fossem os que o mercado estava disposto a pagar.

Quem sabe as montadoras não tenham entendido que o consumidor não é mais aquele de antes, o que talvez seja a informação mais relevante contida neste artigo. O brasileiro de hoje está muito mais informado, tem facilidade em comparar um modelo com outro, chega à revenda sabendo bem o que quer e quanto deseja pagar.

Acima de tudo, o consumidor brasileiro chegou à conclusão de que comprar um seminovo ou usado não é vergonha alguma. O vizinho, o colega o parente encararam um financiamento para tirar um zerinho da revenda?

“Parabéns para eles, mas eu é que não vou me pendurar no banco só para aparecer”, é o que provavelmente vai pensar o consumidor moderno. “Afinal, um carro com um ano de uso custa bem menos que um zero e ainda tem um, dois, até três anos de garantia de fábrica”.

Um mês atrás do outro, as estatísticas de vendas mostram que o consumidor enveredou decididamente nessa direção, fazendo que quase cinco veículos seminovos ou usados troquem de mãos para cada 0 km que sai das concessionárias.

Isso nos leva a uma outra constatação muito importante: pode ser que ele vá demorar para trocar o seu “usado novo” por outro mais novo ou mesmo um novo de verdade, mas logo ele vai aproveitar que não se endividou e tratar de personalizar e equipar o seu veículo.

Talvez seja um som mais incrementado ou só novos alto-falantes; quem sabe um engate ou colocar os novos módulos de vidros antiesmagamento por causa das crianças, que também podem ganhar monitores LED de vídeo para se acalmarem nas viagens.

As opções são muitas e, mais cedo ou mais tarde, as probabilidades são de que aquele resquício de “culpa” que o consumidor chegou a sentir será zerada diferenciando e equipando o seu veículo seminovo ou usado.

Como fica o ranking?

Um resumo do primeiro semestre vai mostrar o Ônix na ponta, seguido pelo HB20 a razoável distância, mas num segundo lugar bem confortável e bem difícil de perder. Entre os sedãs, a Toyota domina com o Corolla, apesar do preço salgado.

No caso dos SUVs, que parecem vender como pãozinho quente de manhã cedo, o Honda HR-V não dá mostras de deixar a pole-position por um bom tempo. E entre as pick-ups, por enquanto a recém-chegada Fiat Toro só não incomodou a irmã menor e mais velha, a Strada.

Volkswagen, Fiat e General Motors, donas das maiores redes de concessionárias autorizadas do País, patrimônio herdado dos tempos de domínio, ainda fazem valer a sua força. No entanto, para se manterem entre as que mais vendem, vão ter de investir muito em produtos.

Com uma mistura de modelos antiquados, sem apelo tecnológico, ruins de preço ou que, pior ainda, acumulam vários desses pontos negativos, elas vão ter que investir pesado para mudar esse cenário.

Parece lógico que muitos modelos saiam de linha, se não para dar lugar aos novos, ao menos para parar de desperdiçar dinheiro. Algumas dessas montadoras têm modelos bem conhecidos que no final do primeiro semestre não estavam vendendo nem 100 unidades por mês no Brasil inteiro.

Algumas, como a General Motors e a Ford, prometeram renovar toda a linha. Outras não foram tão explícitas ao revelar os seus planos, mas vão ter que seguir por um caminho parecido sob pena de perderem participação de mercado.

Dependendo de como entenderem e aplicarem as lições aprendidas, as montadoras vão ganhar ou perder participação. As que apostarem só nos city cars, veículos concebidos para uso eminentemente urbano, moderninhos mas ruins de espaço e com preço alto provavelmente vão ter que se contentar com pouco ou nenhum ganho.

Embora goste de veículos modernos e considere a economia de consumo um atributo importante, o consumidor brasileiro médio está acostumado com espaço interno e pode não estar disposto a pagar o preço pedido pela imagem transmitida pelas campanhas publicitárias.

Ao menos na categoria dos veículos compactos e econômicos, que é a de entrada no mercado e a de maior volume de vendas, deve ganhar quem oferecer o famoso mais por menos. Não vai adiantar lançar veículos de projeto moderno, visual atraente, bem equipados e bons de consumo, mas com preço num patamar mais alto.

O consumidor já aprendeu que desejável é uma coisa e possível, outra, muito diferente. Não quer mais viver tutelado pelos bancos e financeiras. Se for para encarar um degrau que considere pesado entre o carro que deseja e aquele que pode comprar, provavelmente vai se manter à distância das concessionárias autorizadas ou então vai optar por um seminovo.

Em resumo, a indústria automotiva brasileira está num momento de mudança de página, encerrando mais um ciclo, entrando numa nova fase. Devagarzinho a economia vai se recuperar e os consumidores vão retomar a confiança, mas as coisas não vão mais ser as mesmas de antes.

Quem ganhou e quem perdeu

Uma rápida análise dos resultados do primeiro semestre mostra que a Hyundai, a Toyota e a Jeep foram as que mais ganharam participação de mercado no período. Na outra ponta, três das quatro grandes foram as que mais perderam: a Fiat, a Volkswagen e a Ford, listadas por ordem de queda de market share.

A General Motors ficou com a parte do leão, e no azul, graças ao Onix e à sua enorme rede de concessionárias autorizadas. Embora também tenha uma extensa e capilarizada rede de revendas e se mantenha com a segunda maior participação de mercado, a Fiat se ressente da linha com muitos modelos cansados e liderou a lista das montadoras que mais perderam mercado.

Dona da terceira maior fatia de mercado, a Volkswagem continua com uma impressionante rede de revendas que cobre todos os mercados mais significativos do País, mas não consegue aproveitar essa vantagem com a atual linha de produtos.

Embora tenha apenas um modelo, o HB20, nas versões hatchback e sedã, e uma rede de concessionárias que é só uma fração da montadoras instaladas há mais tempo no Brasil, a Hyundai mostrou a força do seu produto e vem ganhando participação continuamente, a ponto de ter a quarta maior fatia do mercado.

É um exemplo claro de que o consumidor sabe o que quer e vai atrás do produto que entrega aquilo que ele deseja por um preço que ele pode pagar, embora ainda deixe a desejar no tamanho da rede de revendas e praticamente só tenha um modelo para oferecer.

Outra montadora que faz a diferença com produto é a Toyota, que deteve a quinta maior fatia de mercado no primeiro semestre e fez do Corolla o sedã médio mais vendido do País, mesmo não tendo uma rede de distribuição alentada. Embora o Etios dê a sua contribuição, é o Corolla, sexto modelo mais vendido no acumulado do primeiro semestre, que faz a diferença.

A lista das montadoras donas das dez maiores participações continua com a Ford, tradicional quarta colocada e agora apenas a sexta, apesar do bom desempenho de vendas do Ka. Ela é seguida pela Renault, pela Honda, pela Jeep e pela Nissan.

As mudanças no seu negócio

Tudo isso evidentemente vai impactar o seu negócio, independente da sua empresa ser varejista, distribuidora ou fornecedora. Portanto, é importante se preparar para tirar proveito dos reflexos dessas mudanças no mercado brasileiro de som e acessórios automotivos.

Participação de mercado - 1º semestre

Participação de mercado – 1º semestre

As renovações radicais de linha e a transformação da tendência dos veículos saírem de fábrica cada vez mais equipados em regra evidentemente terão algum impacto, mas não devem significar o fim do mundo nem muito menos inviabilizar o seu negócio.

Se você observar a lista de acessórios oferecidos pela maioria absoluta das montadoras nos seus famosos pacotes, com certeza vai perceber que muito do que é mostrado na publicidade e desperta o interesse do consumidor só é oferecido nas versões mais caras e olhe lá!

Por exemplo: existem modelos considerados sofisticados que não oferecem vidros elétricos com proteção antiesmagamento nas suas versões de entrada. O mesmo vale para multimídias de verdade, sensores de estacionamento, câmeras de ré e assim por diante.

E a diferença de preços entre as versões básica e a intermediária ou a superior de um modelo é suficiente para que o consumidor faça a festa numa loja especializada em equipamentos de som e acessórios automotivos.

Pense bem: as montadoras investem centenas de milhões em publicidade para despertar o desejo do consumidor naquilo que ele vai ter de gastar uma nota para ter se comprar como equipamento original.

Elas estão despertando desejos na mente do consumidor, mas ele vai ter de pensar bem antes de transformá-los em realidade na hora de comprar o seu veículo zero. Provavelmente, numa loja especializada ele vai conseguir incrementar o carro novo ainda com metade do que iria gastar para ter um veículo mais equipado de fábrica. Trocando em miúdos, elas estão criando mercado para a sua empresa!

Em resumo, ainda existe, e ainda vai existir por muito tempo, mercado para produzir, distribuir e vender equipamentos de som e acessórios automotivos, tanto para os veículos novos quanto para a frota de seminovos e usados, que é imensamente maior.

Portanto, mãos à obra!

 

Texto: Amadeu Castanho Neto
Imagens: Divulgação

Matéria publicada originalmente na revista AutoMOTIVO, a publicação B2B do mercado brasileiro de som e acessórios automotivos

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